Ha oito anos trabalho na secretaria de sáude de um município da região metropolitana II. Já realizei muitas Oficinas da Palavra e Oficinas que chamamos "Cuidando do Cuidador" com profissionais da Estratégia Saúde da Família.
Mas o que desejo compartilhar hoje são as oficinas que tenho feito com pais e responsáveis numa escola municipal que vai até a 8ª série.
A diretora da escola, após perceber que uma turma quase inteira de 6ª série se queixava de dor de cabeça e enjôo, averiguou e encontrou uma lata de solvente que passava de mochila e mochila, sendo aspirada pelos alunos. A preocupação foi grande e insuportável para a escola sozinha. A diretora buscou ajuda na Unidade de Saúde da Família do bairro.
A parceria da Educação com a Saúde estabeleceu-se através da realização das Oficinas da Palavra com pais e com professores. Para atender à demanda de conscientização dos alunos a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania foi acionada, na instância da Subsecretaria Municipal de Prevenção e Combate à Dependência Química. Foi enviado um profissional que é um dependente químico em recuperação para passar sua experiência e alertar aos adolescentes sobre os riscos que podem correr ao se envolverem com substâncias que causem dependência.
As oficinas com os pais têm reunido pais extremamente preocupados em defender seus filhos e sua comunidade. Deparando-se com as avassaladoras conseqüências do abuso de drogas e da presença do tráfico no seu bairro, estes moradores sentem-se de mãos atadas.
Entre as dificuldades enfrentadas neste contexto, os pais apresentam-se prejudicados pelo comportamento violento dos jovens, desamparados pela escola e pelos professores, descontentes com a falta de autoridade destes com seus filhos e impotentes diante da situação em que vivem os envolvidos com o tráfico.
Angustiados e ansiosos por soluções, muitas vezes não percebem a vasta amplitude das estratégias de superação que lançam mão na tentativa de lidar com o que lhes parece maior que eles mesmos. Porém, quando têm a oportunidade de refletir em grupo sobre isto, dão-se conta da riqueza do seu leque de possibilidades. Estas vão desde palmadas e castigos até conversas na intenção de conquistar a confiança dos filhos para que entendam os limites que precisam ser respeitados. Estar em grupo também permite a expressão da cobrança do que os pais esperam da escola: que os professores exerçam sua autoridade e dêem limites para os alunos, que a escola intensifique seus esforços na luta contra as drogas.
A escola, por sua vez, tem a chance de apresentar os movimentos que tem feito: a busca de apoio das Secretarias de Saúde e de Direitos Humanos, a abertura à comunidade e a necessidade que esta também esteja atenta aos recursos que possam contribuir com o trabalho que a escola inicia.
Ao fim das rodas, muitos se sentem aliviados em saber sobre as providências que estão sendo tomadas. Junto a isto, ouvimos agradecimentos pela oportunidade de serem escutadas, reflexões sobre como todos os seres humanos são iguais e sobre como é bom olhar para sua própria vida. Sempre embalados pelo balanço no abraço coletivo que conforta e evita dores nas pernas: “Eu estou levando o balanço, pois não gosto de ficar em pé parado!”